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Suicídio - conhecer para prevenir



Suicídio e Para-suicídio

Prof. Dr. Darcy Roberto Lima, MD, PhD.

O suicídio faz parte integral da psicologia humana e existem poucas pessoas felizes e realizadas o suficiente que nunca pensaram em suicídio. A maior parte da humanidade já pensou e pensa periodicamente na possibilidade de suicídio como um recurso, mesmo que final, para a solução e fuga de todos seus problemas. O para-suicídio, uma síndrome de auto-agressão deliberada é um fenômeno recente, mas já atingiu proporções epidêmicas nas últimas duas décadas. Em um grande número de países desenvolvidos estes problemas se tornaram na primeira causa de admissão hospitalar de mulheres abaixo de 65 anos e a segunda para homens na mesma faixa etária. Por outro lado, o suicídio é a principal causa de morte entre médicos com menos de 40 anos de idade e a segunda causa mais comum de morte entre jovens da raça branca entre 15 a 19 anos de idade nos países modernos. Muitos casos de auto-agressão não chegam a receber atendimento e registro médico correto. O perfil clínico do suicida e do para-suicida é diferente, conforme mostra o Quadro 1.

Quadro 1 - Características Clínicas do Suicida e do Para-Suicida
  Suicida Para-suicida
Tema central Desespero, depressão Raiva, frustração
Epidemiologia Discreta diminuição Grande aumento
Incidência Acima dos 50 anos, homem em sua maioria Faixa dos 18-45 anos, mulheres em maioria
Aspectos sociais Solidão,desemprego, divórcio, perdas Desavenças, brigas familiares, fanatismo religioso
Metodologia Meticulosidade,planejamento, execução, violência, uso de venenos, gás Impulsividade, ingestão de remédios, ferimentos leves (cortar pulsos)
Álcool Aumenta impulso Reduz, controla impulso
Doenças 90% com depressão maior 30% com depressão, distúrbios da personalidade
Prognóstico Grande mortalidade, sobreviventes sob rigorosa supervisão médica Grande morbidade, repetitividade, psicoterapia, orientação

O suicídio reflete uma forma extrema de autocensura, de desespero, de solidão e de falta de visão de perspectivas para a vida. Estima-se que normalmente na vida adulta moderna, cada ser humano normal pense em suicídio várias vezes por ano, sem concretizar o desejo. Pensamentos passageiros a respeito da morte são universais e os pensamentos de autodestruição fazem parte da rotina diária de cada ser humano. Trata-se apenas de uma reação de ansiedade intensa desencadeada por problemas na vida familiar, social e profissional que causam angústia e depressão de forma temporária. A maioria das pessoas que se suicida ou tem este impulso, consulta antes um médico. Nos Estados Unidos, mais da metade dos suicidas procuraram antes de um médico, um pastor ou alguma forma de ajuda, sendo que apenas um terço procurou um psiquiatra. A ameaça de suicídio ou para-suicídio se constitui na grande maioria das vezes num meio de dominação e de controle interpessoal. São ameaças usadas para influir em relações amorosas heterossexuais como homossexuais, incluindo casamentos, para evitar a dissolução dos mesmos, para coagir os pais aos desejos de crianças e vice-versa bem como para a obtenção de vantagens junto à família, amigos ou mesmo instituições profissionais, como empresas e serviço militar. As tentativas de suicídio sem sucesso ocorrem com uma freqüência de 10 a 50 vezes superior aos suicídios bem sucedidos. Estes são mais freqüentes nos primeiros seis meses após a alta em pacientes que deixam hospitais psiquiátricos. A taxa anual de suicídio varia de 23 por 100.000 habitantes no Japão a 10 por 100.000 habitantes nos Estados Unidos, sendo a décima causa de morte nos países desenvolvidos. É mais comum em mulheres que em homens (3:1) e em centros urbanos é comum a associação de psicoses afetivas e alcoolismo. Imigrantes ou visitantes de um outro país apresenta maior risco que os habitantes naturais. Nem todo paciente deprimido possui risco de suicídio, mas cerca de 15 % dos pacientes com distúrbios afetivos morrem em decorrência de suicídio. Nos Estados Unidos morrem cerca de 25.000 pessoas anualmente através do suicídio. O risco é maior naqueles integrantes de uma família com história de suicídio, demonstrando uma relação hereditária na ocorrência de transtornos do humor e um maior risco para o suicídio.

Pensamentos suicidas são sempre extremamente sigilosos e escondidos pelo paciente, de forma que o médico deve sempre perguntar sobre a idéia de suicídio ao paciente de uma forma enfática, calma, segura e desprovida de crítica ou censura. Isto ajuda o paciente a sentir-se aliviado. Mas o médico não deve tentar interferir ou convencer o paciente do contrário, mas sim avaliar criteriosamente a disposição do paciente em cometer seu desejo. Esse deve procurar conhecer a motivação desencadeante (desejos, frustrações, idéias, desesperos, raivas, contrariedades), o grau de intenção suicida e os planos para o mesmo. Isto permite ao médico caracterizar o risco real, sua exeqüibilidade, bem como avaliar um potencial de recuperação do paciente e a medida necessária para tal. Desesperança é o aspecto da depressão que apresenta maior correlação com a conduta suicida. Aspectos demográficos como idade, alcoolismo e vida solitária também influem favoravelmente para o suicídio. A faixa etária com maior incidência de suicídio no homem é em torno dos 80 anos e na mulher entre 55 e 65 anos. Entre jovens a faixa se situa entre 15 e 19 anos na raça branca e abaixo de 40 anos na classe médica, um aspecto importante para programas de residência, pós-graduação e escolas médicas. Nenhuma escola médica, programa de residência médica ou curso de pós-graduação inclui um suporte psicológico a seus alunos, embora elaborem excelentes programas de treinamento para salvar a vida alheia. O médico jovem é submetido a situações de angústia e tensão que exigem uma orientação psicológica permanente em seu local de treinamento. O suicídio de um paciente sob supervisão médica, como a morte, é uma lembrança de que o médico não é onipotente e infalível, uma vez que uma pessoa determinada ou doente (depressão maior) o suficiente, pode e consegue achar maneiras de cometer o suicídio. Além dos recursos da ciência médica, é importante que o paciente seja orientado a buscar uma orientação religiosa, que de forma isolada através da leitura sistemática da Bíblia e meditação através da fé, quer por meio de uma religião.

A. Quando suspeitar?

Para-suicídio

. pessoas jovens, principalmente mulheres

. anonimato e inquietude na vida urbana

. raiva, frustração, brigas, desavenças afetivas

. impulsividade, ingestão abusiva de remédios sem critérios

. distúrbios de personalidade

Suicídio

. homens acima dos 50 anos

. desesperança e desânimo para tudo

. humor deprimido (humor irritável na maior parte do dia)

. apetite ruim, diminuído ou exagerado

. insônia ou hipersonia, falta de energia, fadiga, apatia

. baixa auto-estima, concentração ruim, indecisões para tudo

. sentimentos de inutilidade, culpa excessiva ou imprópria

B. Como confirmar?

. história e exame clínico

. exame psiquiátrico

. não há testes laboratoriais ou auxiliares específicos

C. Como tratar?

. atendimento freqüente e mesmo internação hospitalar e rigorosa observação na suspeita de risco potencial de suicídio na depressão maior

internação hospitalar em serviços de emergência nas tentativas do para-suicida

. orientação psicológica permanente com avaliação do risco de novas tentativas

. distúrbios do humor (afetivos) são problemas mórbidos e potencialmente perigosos que requerem um tratamento rigoroso e eficaz, com antidepressivos ou mesmo eletroconvulsoterapia

Referências:

Lima, d.r.a. Manual de farmacologia clínica, terapêutica e toxicologia. Rio de Janeiro: Medsi, 2004.

Fonte: http://www.cafeesaude.com.br/conselhos/suicidio.htm

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